Aquela menina, um despropósito
"Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens. E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos." Manoel de Barros, no poema O menino que carregava água na peneira
Onde estão os nossos despropósitos? Aquela escrita mais solta, aquele olhar mais demorado. Aquele sem saber porquê ou o quê. Onde estão esses lugares? A gente fica aqui a espreitar. 'Aquela menina' é uma história que nasceu cheeeia de despropósitos e por aqui a deixamos guardada, sem saber muito os porquês.
Aquela menina
Antes eu não entendia, aquela menina passava o dia olhando nuvens. Em frente de casa, tem um outdoor imenso, sempre tem algo, até propaganda de tênis. Mas ela sempre desvia os olhos e aponta pro céu. Um dia, insistiu que tinha gente brincando nas nuvens.
– Tá vendo! Olha ali... As pernas e a corda de pular. Dá pra ver certinho!
Quando dava tempestade, ela já falava que era outra batalha entre um urubu e um carcará gigantes que vivem dentro das nuvens. Teve um dia que o vento bateu tão forte, que ela se assustou e fechou a janela correndo. Mesmo assim, ficou lá espiando pelas frestas.
– Olha! disse de repente. E apontou toda animada. – Tem um gato nas nuvens, ele vai espantar esses pássaros.
O sol então se abriu, as nuvens esbranquiçaram e ela já dizia:
– Você não viu, não? É que no meio da briga, o gato atrapalhado derramou um copo cheio de leite.
Ela parecia contar sonhos.
– Olha, tá vendo aquela ali longe!
– Qual?
– A pequenininha, meio amarela.
– Acho que vi.
– Então, é uma chave!
– E não é que parece... E aquela outra, maior ali em cima!
– Que tem?
– É uma bota pra chuva, não é?
– É sim!
Aquela menina, primeira versão
Aquela menina nasceu em uma das oficinas Gesto de fazer - você pode ler outras histórias que nasceram aqui e aqui. Feita a partir do exercício de invenção de histórias a partir de um baralho de cartas por Daniela Zayat, Luanda Menina, Marisa Inahara, Renata Matteoni Macera y paulo Oluá. É uma criação coletiva. Segue para conhecerem a primeira versão:
Eu não entendi aquela menina ficava o dia todo na janela olhando as nuvens. Ela ficava olhando as nuvens e na frente dela tinha um outdoor de um ônibus. E ela olhava as nuvens e nas nuvens ela via um formato de menino brincando. As nuvens que ela via o menino brincando de repente se transformava em uma grande tempestade. Enquanto ela via essa tempestade um pássaro negro assustou ela. Um pássaro assustou e ela fechou a janela rapidamente… ficou olhando pela fresta. Enquanto olhava não percebeu que o gato entrou na casa e derrubou um copo de leite. E como escureceu naquela tempestade ela resolveu dormir e sonhos lindos sonhos. Ela adormeceu sem se importar que o gato entornou o copo de leite e percebeu que havia se trancado dentro de casa. E mesmo trancada ela percebeu que não poderia sair pela rua sem suas botas.
Em seguida, em um movimento de recontar e recontar, a história foi transcriada por Ana Lima y vinicius airumã para chegar na versão final que deixamos aqui.
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vinicius
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