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Foto do escritormínimo diário

Memórias Pontuais – a encadernação e a oralidade

Memórias Pontuais – Programa VAI 2016

O nosso novo projeto Memórias Pontuais iniciou de vez agora em junho. Esse projeto é uma investigação e criação artística sobre as relações entre as artes manuais, oralidade e memórias. No nosso processo as artes manuais são focadas na linguagem da construção dos livros: a encadernação artesanal. Já a oralidade é a nossa nova área de estudo e criação através da narração de histórias. E, por fim, as memórias do presente, isto é, aquilo que coletivamente está em discussão e presente em nosso imaginário.


O projeto foi contemplado pelo Programa de Valorização de Iniciativas Culturais VAI -2016, da Secretaria Municipal de São Paulo/SP. Começamos a produção neste mês e vamos nessa travessia até fevereiro de 2017. Serão nove meses de ações que contem:

  1. a articulação de uma formação em narração de histórias;

  2. a criação de nosso canal no youtube – aproveite e se inscreva pra acompanhar o processo;

  3. criação de performances de narração de histórias; e

  4. as nossas oficinas de encadernação artesanal, agora com dois formatos:

  5. brincando com livros artesanais para educadores e agentes socioculturais; e

  6. livros de memórias presente.

Artes manuais: a encadernação

Trabalhamos a encadernação artesanal, desde 2014, sempre nos questionando sobre as capacidades criativas, simbólicas e materiais desse trabalho. Ao produzir nossos livros estamos ao mesmo tempo produzindo nossos corpos como encadernadores. Esse ato é tão potente que sempre queremos compartilhar. Assim, mantemos nosso trabalho com as oficinas, contudo apenas um pouco diferente. Ah, todas são gratuitas e com seleção por sorteio.

Memórias Pontuais: Oficina Brincando de Livros Artesanais, na Biblioteca Chácara do Castelo.

Oficina Brincando com livros artesanais, na Biblioteca Chácara do Castelo.


A nossa oficina principal Brincando com livros artesanais, se mantém como uma introdução as possibilidades da encadernação com costuras simples e que permitem diversas criações – como a costura panfleto usada na confecção do nosso Costurando contos narrados. A grande diferença é que dessa vez a oficina será para educadores e agentes sócioculturais. Acreditamos que assim será mais fácil a disseminação dessas ações para mais pessoas, pois esses atores estão em trabalho constante com crianças e jovens. Acreditamos na encadernação como uma ferramenta artística, educativa, cultural e social.

Também realizaremos um nova oficina chamada Livro de memórias presente. Nessa oficina construiremos livros artesanais com costura japonesa, junto a criação de narrativas envolvendo o espaço da oficina – em especial fotos antigas e recentes da região. Essa oficina é um novo experimento e ainda pode sofrer alterações. Ainda uniremos a esse trabalho as ações do movimento cartonera. Editoras cartoneras reutilizam papelão para a confecção das capas dos livros, um exemplo é a Dulcinea catadora. Conhecemos a Dulcinea ao fazermos uma oficina no Sesc Santo Amaro, com orientação da Lucia Rosa. Ela nos mostrou possibilidades simples, inspiradoras e divertidas de criar livros e suas artes.

Memórias pontuais: capa da zine cartonera para quem celebra os amores

Zine para quem celebra os amores, feita pelo Paulo, na oficina da Dulcinea Catadora. As capas feitas com reuso de papelão.


Oralidade: a narração de histórias

Na trilha deste ano, começamos a investigar mais atentamente a narração, ou contação, de histórias. Nós três fizemos uma oficina no começo do ano n’A Casa Tombada, com o Giuliano Tierno. Foi o nosso primeiro contato direto com a narração. Com exceção do Paulo que tem experiência com contações para criança.

Neste processo queremos trabalhar o enfoque da narração de histórias para jovens e adultos. Iremos articular uma formação em narração de histórias, com um formador convidado, que terá duração de 30h e será aberta para 10 participantes. Em breve, divulgaremos mais detalhes dessa ação, com datas e como será a seleção.

Após a formação e dialogando com o nosso projeto, que será filmado e divulgado no YouTube, criaremos performances de narração de história. As histórias trabalharão a relação da oralidade, livro e memórias, e circularemos por saraus da cidade.

Por fim: o que é memória?

Para fechar chegamos ao tema de nosso trabalho, mas afinal: o que é memória? Por agora não temos grandes respostas, muito mais dúvidas e sensações do que ideia de por onde começar, por onde caminhar. Contudo, no último ano essa palavra aparecia em nossas falas cada vez mais. Como resgate de infância, como construção de nosso coletivo, como questionamentos da nossa realidade social, como entendimento de nossos lugares como sujeitos do mundo e por aí.

Assim, fizemos uma primeira ação, criamos um livro de memórias de uma contação de história n’A Casa Tombada. Registramos com fotos, gravações, intervenções, falas aquilo que vimos e sentidos em um livro artesanal. Buscamos a relação entre o efêmero da oralidade e o quase impositivo do objetivo livro. Algo foi feito.

memórias pontuais minimo diário na casa tombada

Paulo, Carlos e Ana, mínimo diário n’A Casa Tombada no dia em que produzimos o livro memória presente.


Depois em segundo momento, trabalhamos a memória e a identidade com crianças, educadores e o espaço. Numa oficina experimental na Brechoteca, que estava de mudança para um novo espaço. Um momento de luto, reconstruções e afetos. Algo novamente foi feito.

Memórias pontuais: leitura e pergunta O que é memória. Crianças na mesa, Paulo lendo histórias, e Carlos próximo a lousa no fundo.

Oficina Livro de memórias presente, na Brechoteca.


Afinal, o que é memória? E o que fizemos?

Não temos respostas, mas sim o desejo que se expande e nos leva a questões como: histórias que deixei de ouvir/ histórias que não me contaram. Afinal, quando fechamos nossos ouvidos para as histórias de nossa vida e nossa tradição? E quando tivemos um ruptura em que histórias não nos foram ditas ou foram escondidas de nós? Somos frutos de nossas histórias? Se sim, quais os problemas causados de seremos filhas de um país que se diz mestiço?

Iremos caminhar por aí, buscando conexões e recriações. Talvez como Manoel de Barros, teremos de produzir memórias inventadas:

Manoel por Manoel

“Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto.“Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. Éum paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos.“Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.” – em Memórias Inventadas: a infância.

Travessia!

Carlos

 


Saiba mais

Siga o projeto pela tag #MemóriasPontuais. E não se esqueça de ver a agenda atualizada das ações na plataforma SP Cultura (clique aqui).

Acompanhe as demais ações do nosso trabalho pelas tags: #InventeUmMeio #QualÉOTeuVerso #AceiteOsErros #OutrasVozes. E visite a nossa loja virtual, com os nossos trabalhos disponíveis para você.

 

Memórias pontuais é um projeto do mínimo diário. Patrocínio Programa de Valorização de Iniciativas Culturais – 2016, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

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