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O que há de vital entre o manual y o virtual?

Um tempo no sem saber

Para onde ir quando um mundo se coloca em fim? Estamos em mudança de rota, não estamos? Como pessoas, como relações, como governo? Estamos mudando. O que fazer como um coletivo de manualidades, afetos y encontros num momento em que é preciso distância? Não sabemos. Alguém sabe?


“Suspender o céu é ampliar o nosso horizonte; não o horizonte prospectivo, mas um existencial. É enriquecer as nossas subjetividades, que é a matéria que este tempo que nós vivemos quer consumir.” Ailton Krenak, em Ideias para adiar o fim do mundo

Talvez mudanças tenha a ver com isso, ficar um tempo no sem saber. Estamos assim? Eu, nós, você, vocês, nós? Estamos assim? É um tempo de experimentar. Agora como experimentar se a morte espreita? Não podemos nos fechar y não olhar ao lado. Ou podemos? A gente acha que não.

Experimentar com respeito y inteligência, talvez precisamos disso. Y agora pequenas ações, pausas y muitos passos para trás. Quem sabe algo a se relembrar?

 

Restos ao redor

Vê ao redor as sobras de um fazer: papéis amassados, fiapos de fios, retalhos de tecidos… na sua vontade cria mundos e não faz dos vestígios de usos mais descuido de mundo. criatura e criadora, viva, a cuidar e ser cuidada.

Costuramos tempo em tecidos esquecidos, lemos Krenak y de encontro a encontro inventamos um meio de ficarmos vivas. y assim seguimos, el aguante 🏹

“Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta, faz chover. O tipo de humanidade zumbi que estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto prazer, tanta fruição de vida. Então, pregam o fim do mundo como uma possibilidade de fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos.” Ailton Krenak, em Ideias para adiar o fim do mundo.

::: papel de pessoa no mundo :::

::: fios de histórias ou linhas de pensamentos :::

::: vital & virtual :::

 

Encaixote

o que há de vital entre o manual e o virtual? estamos num momento em caixas. livros guardados, pessoas em casas.

»» quais pessoas? quais livros?

este momento de caixas. ficamos a pensar, quem pode se guardar? quais histórias podem ser ditas? neste momento, as histórias se encaixam? quem ouvimos? quem dissemos?

¿plantas ainda devem virar papel? estamos nestes dias a buscar: outras línguas, outros gestos, outros mínimos diários

 

Isto não é um livro

costurando contos narrados foi nossa primeira criação, foi quem nos criou. um livro artesanal que uniu três pessoas a lidarem com papéis, histórias, dobraduras, escritas, costuras, oficinas y…

estamos coletivamente vivendo uma reticência. como será o mundo agora? um grande ‘ y agora? ‘ nos salta aos corpos. há espaço para os encontros? há como fazer os gestos a distâncias?

não somos um coletivo de ensinagem, nem de encadernação. somos um conjunto de gente a buscar criar, recriar, relembrar histórias y gestos. não queremos formar corpos técnicos, queremos acreditar na potência dos afetos y na construção de outros olhares.

não é um livro, é um mar de encontro

o que há de vital entre o manual y o virtual? nos perguntamos, pois estamos a arriscar y a querer mostrar esses arriscamentos para vocês y construir passo a passo juntos – de telas em telas -outras histórias!

 

há espaço para os livros?

tipo, não o livro como história contada, mas o livro como objeto de papel. há ainda espaço para eles? as casas cada dia menores. os papéis a sujarem as ruas. descartes poluindo seus excessos. os papéis feitos do extrativismo da madeira, do extrativismo da terra. há espaço para dobrar papel feito sujando a terra?

não temos ideia de resposta.

será viável retomar a produção dos papéis artesanais? mesmo assim conseguimos pagar o valor certo por esse trabalho sofisticado? seria possível produzir papéis y livros de outro modo? há de se querer imaginar, não? há outros modos de pensar y produzir os materiais y as nossas relações com a terra? precisamos sonhar, não? que haja espaço para os livros de papel, que eles não sejam apenas “pele de árvore morta” em vão, como chama Davi Kopenawa Yanomami o papel

o que há de vital entre o manual y o virtual? insistir numa perguntar.

“Vamos aproveitar toda a nossa capacidade crítica e criativa para construir paraquedas coloridos. Vamos pensar no espaço não como um lugar confinado, mas como o cosmos onde a gente pode despencar em paraquedas coloridos.” Ailton Krenak, em Ideias para adiar o fim do mundo

Queremos conexões!  Y tudo que nóiz tem é nóiz, canta Emicida.

Airu.Oluá.Ana Y

∆Ω★ risco.risco.risco ‽¿„  ••• há-risco na rua: ••• riscar, o chão?  →→↑↑↓↓←←

 

Esta escrita foi composta pela colagem das postagens feitas entre 22 y 30 de abril de 2020 em nosso instagram.



 

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